Alunos do Centro Universitário do Leste de Minas são selecionados em concurso nacional e usam prêmio para dar continuidade a projeto de iniciação científica para recuperar minerais nobres.
Até 7% do ouro do mundo pode estar atualmente em lixo eletrônico, com 100 vezes mais ouro em uma tonelada de rejeitos do tipo do que em uma tonelada de minério de ouro.
A despeito dos impactos ambientais ao descartar aparelhos eletrônicos no lixo, você sabia que está jogando dinheiro fora? Isso porque vários deles têm entre seus componentes metais como ouro e cobre, que podem ser recuperados e revendidos para as indústrias. Pensando nisso, dois estudantes do sexto período de engenharia química do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste) desenvolveram um método para tratamento dos metais e foram um dos vencedores do Prêmio Sustentabilidade Radix. A dupla foi selecionada com outras seis equipes em todo o país pela empresa de engenharia e software Radix para receber um prêmio de R$ 10 mil. Com o dinheiro, os mineiros deram continuidade ao projeto de iniciação científica “Recuperação de ouro e cobre presentes em lixo eletrônico”.
O método criado pelos estudantes prevê o reaproveitamento dos metais por meio de um processo denominado hidrometalúrgico, que consiste, em linhas gerais, na extração do minério moído com solventes adequados, obtendo-se rejeitos que poderão então ser tratados. A partir daí é feita a filtragem da solução e a precipitação do metal por meio de uma concentração, aquecimento ou eletrólise. O primeiro metal a ser recuperado é o ouro, e em seguida o cobre. E a grande vantagem do processo hidrometalúrgico sobre os demais é que ele não é tóxico.
Para a realização da pesquisa, os integrantes da equipe Mineiros Tecnológicos usam peças de computadores doadas por lojas de informática ou pessoas físicas. O ouro e o cobre estão presentes especialmente nos processadores e nas placas eletrônicas dos aparelhos, respectivamente. Para este ano, a meta dos estudantes de engenharia química é recuperar ainda mais metais: prata, platina, níquel e chumbo. A médio e longo prazos, o processo pode chegar ao estanho.
Por enquanto, os testes com os metais vêm sendo feitos em escala laboratorial, mas a ideia é que se chegue a quantidade suficiente para revenda. “Nosso objetivo é desenvolver um método eficaz, de baixo custo e que não gere danos ambientais. A reciclagem dos metais é muito mais barata que a extração mineral. As minas vão ficando cada vez mais profundas e fica mais difícil e caro retirar o minério, além de causar impactos ambientais. É importante saber que metal não se perde, ele pode ser reutilizado”, explica Lúrima Faria, uma das responsáveis pela pesquisa desenvolvida em Minas Gerais. O método foi criado por ela em parceria com o também estudante Filipe Souza Almeida.
E-lixo De acordo com Lúrima, já existem hoje no país outros métodos para a reciclagem dos mais variados tipos de metais usados nos aparelhos eletrônicos. Entre eles está a calcinação (processo de decomposição química endotérmica, não reversível, ou de reação inversa muito lenta, podendo envolver a corrosão e a mudança de cor do material) ou o uso de mercúrio. O problema é que esses mecanismos são tóxicos. “A ideia do nosso trabalho surgiu a partir da forma equivocada que se dá ao descarte do lixo eletrônico. Os métodos de reaquisição de cobre e de ouro, por exemplo, que existem atualmente não são eficientes na questão do impacto ambiental”, explica.
O lixo eletrônico é resultado das constantes inovações tecnológicas, que atingem principalmente computadores e aparelhos celulares. Estudo realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgado em maio do ano passado mostra que em todo o mundo vão para o lixo cerca de 42 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos. No Brasil, o número chega a 1,4 milhão – atrás apenas dos Estados Unidos. A falta de preparo para o descarte do material fez com que o Congresso Nacional aprovasse, em 2010, a lei chamada Política Nacional de Resíduos Sólidos, que obriga as empresas a cuidar do lixo eletrônico, para não contaminar o meio ambiente. Todos os cidadãos, do consumidor ao fabricante e quem comercializa os itens, são responsáveis pelo descarte correto dos materiais. Isso não vale apenas para os eletrônicos, mas para toda a cadeia produtiva, principalmente embalagens diversas, resíduos de saúde, vidros, etc. Dentro dessa dinâmica, existe a chamada logística reversa, em que o fabricante dos produtos precisa recolher os materiais já usados para lhes dar novo ciclo de vida.
Fonte Em.com.br