A Noruega consegue dar um destino apropriado para 74% dos equipamentos descartados, mesmo sendo um dos líderes mundiais na produção relativa desse tipo de resíduo, com 27 quilogramas por habitante/ano.
Até a metade da década de 1990, 90% do lixo eletrônico era alocado em aterros sanitários, incinerado ou reutilizado sem tratamento, expondo as pessoas aos perigosos produtos químicos.
Isso começou a mudar no final daquela década, quando o governo local começou a implementar regulamentações que obriga a indústria e importadores, maioria por lá, a coletar baterias e eletrônicos velhos dos consumidores que não os querem mais, sem custos.
Para isso, as companhias firmam parcerias com empresas especializadas, que são minuciosamente reguladas e inspecionadas pelo órgão ambiental norueguês. Junto com os municípios, são os responsáveis por instalar pontos de coletas, comunicar à população, cuidar do armazenamento, e encaminhar para a reciclagem.
A ideia é que o ciclo se complete, sendo reaproveitado como matéria-prima seja dentro ou fora do país. “Os resíduos mais perigosos, como mercúrio e chumbo, nós tratamos dentro do país. O que não é, é vendido para todo o mundo”, afirma Ole Thomas Thommesen, conselheiro sênior para Resíduos e Reciclagem na Agência Norueguesa para o Meio Ambiente.
Apesar do sucesso, é importante considerar que toda a Noruega, com seus cinco milhões de habitantes, tem metade da população da cidade de São Paulo. No Brasil a questão é abordada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, considerada uma das mais avançadas do mundo, por se apoiar na responsabilidade compartilhada em que cada um dos envolvidos, do consumidor ao fabricante, são encarregados por uma parte da logística reversa.
Mas falta combinar com todo mundo. Faltam dados sobre origem e destino desses resíduos, tornando difícil o gerenciamento do volume. Do que é coletado, porém, grande parte deste descarte é feito em armazéns e locais sem o devido licenciamento ambiental, ignorando as necessárias medidas para reduzir os riscos de contaminação ambiental.
Thommesen reconhece que em seu país é bem mais fácil aplicar tal política pois, segundo ele, a corrupção é baixa e é fácil para o governo impor regulamentações. “Mas não é impossível fazer nos outros países, só precisa conseguir forçar as companhias a fazerem o que devem fazer”, diz. “As empresas não querem fazer, por que isso custa dinheiro, então você tem que encontrar meios para isso. Essa é a parte mais difícil.”
Fonte: Revista Galileu